Estava eu nos últimos dias de atividades escolares. Os estudantes há essa altura já se encontravam de férias. Um dia lindo e para quem mora no litoral catarinense, dias lindos e abrasadores, significa deu praia, enquanto nós, os professores, estávamos fechando os temíveis conselhos de classe.
Na segunda, havia trabalhado manhã, tarde e noite, no dia seguinte o corpo todo doía e a enxaqueca era forte, estar com os colegas o dia todo soa como estar no estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov, separando a Criméia da Rússia Continental. Os professores fazendo suas análises de conjuntura, o fulanito, a fulanita e o beltrano.
Eis que no meio de tantas turmas, apareceu uma estudante causando um certo furor entre professores, a discente era famosa, ficando conhecida como a Carminha da escola, Seu pobre, era seu jargão preferido,
Competindo com- Odeio vocês seus pobres, vamos lá para a banca de heteroidentificação, loira, e não se se enganem, o sul é a pátria dos brancos? Sim, de loiros nem sempre, depende muito da região e dos seus territórios. Então, loira em uma sala de aula de escola pública de brancos encardidos, imigrantes, pretos. Ela a estudante agia como se fosse a própria personificação da Raça Excepcional. Não bastava ser loira, que já é bastante coisa, seu pai tinha um 4 x 4, é pensando bem, ela não apenas tratava mal os colegas, como tentava uma vez e outra dizer aos professores quem mandava ali, caprichosa de seus quereres.
Todos, começaram a denegrir a estudante, por fim, uma professorinha diz, Como pode essa manceba toda errada, namorar um Pretinho Nordestino? Vá entender esse país.
Bastou, para que o ponto chave que era a manceba, deslocara-se, adivinhem a histeria, todos os antirracistas catarinenses fortemente desconstruídos, chamaram atenção para tal colocação. Seria correto chamar o estudante preto e nordestino de pretinho e nordestino?
Mas qual foi o tom utilizado pela senhora? Pois é , pegou mal hein, sentenciou outra, vejamos suas reais intencionalidades. A pobre professora só queria mesmo enfatizar que porra de país é esse.
Ouvi dizer que o cantor Tim Maia, ficou surpreso porque no Brasil, traficante é viciado, puta se apaixona e pobre é de direita, acrescentaria na lista e racista fica com preto.
Infelizmente esse último raciocínio não entrou na pauta, pensando bem, talvez poucos a entenderiam, e também nem sei porque a professorinha levantou essa questão no meio do conselho de classe. Afinal, nem estamos na semana da consciência negra, é quase natal e faz sol no litoral catarinense.