sábado, 24 de dezembro de 2016

Arrebatada

Um suspiro em cada janela aberta
Por cada palavra descoberta
se esvaecem os suspiros, esses
eram unicamente para ti
O desejo esse querer latente
Permanece entre a gente
Não sei, se lhe vejo hoje
Ou se nos encontraremos amanhã
Só sei, que sonhei contigo
E te espero a cada manhã

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Famílias Negras Empoderadas




 A foto acima, é um sonho para parte das famílias negras no Brasil. Se de um lado a ideia da ancestralidade, sempre vista e pensada através da matrilinearidade, aqui coloca-se em evidência o lugar dos nossos anciões, e do diálogo entre as diversas gerações de homens negros e a sua importância no fortalecimento dessa rede. Estes homens envelhecidos   que tem muito a nos ensinar, guiar e orientar. Em um país, em que nossos jovens morrem dos 14 aos 25 anos, com números análogos a de uma guerra civil, ou de um genocídio. Portanto, sua sobrevivência deveria ser celebrada por todos nós. Entretanto, nos falta tempo e expectativa para imaginá-los em maior idade.
Do outro lado, a figura constante de homens negros que ao abandonarem suas famílias, na busca desesperada pelo reconhecimento de sua masculinidade, colecionam mulheres, filhos e fios de solidão, pois ao fim e ao cabo, se reduzem às expectativas dos antigos escravocratas e de seus reduzidos privilégios machistas, ávidos pelos ganhos com suas crias, pois para os senhores de escravos, estes homens serviam apenas, para o trabalho e reprodução, quanto maior a prole, maior o ganho para a casa grande. Ou dos sonhos e devaneios sexuais de brancos e brancas racistas. Em que sua ascensão em nossa sociedade, parece não combinar com uma mulher negra ao seu lado.
Sujeitos, que morrem fisicamente ou que tem sua morte simbólica, ao se tornarem o espelho que a sociedade da democracia racial organizou para si. A conta lhe será cobrada em algum momento isto é certo. Como diria Toni Morrison, O olho mais azul, primeiro te transformam em solo infértil depois lhe cobrarão os frutos. Deste modo, a tônica Empoderamento de famílias negras e de nossa comunidade, parece algo sempre presente e sua ênfase em nossas rodas de conversas, formações e diálogos em torno do nosso crescimento uma necessidade, a prática da filosofia Ubuntu em que a humanidade de um só pode ser partilhada, em harmonia com o todo.
Embora, eles não saibam, o nome de parte das ações e cotidianos aqui apresentadas é escravidão e resquícios de uma sociedade Racista/Patriarcal, que transforma ditos privilégios de gênero em sua própria condenação, já que se se alinham a ideários racistas. É da  natureza da escravidão, o controle do trabalho, da obediência e do sexo, triste é saber, que o sonho dos colonizadores permanece firme e atual no seio de nossa comunidade.

Desterro, 23 de junho de 2016

Cristiane Mare da Silva- Texto escrito em diálogo com minha amiga Claudia Prado da Rosa e de meu companheiro Paulino Cardoso.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Sou uma Mulher,
Trago sinais do tempo
Marcas da vida,
Que se estabelecem
como cimento calcificado

Há o que se pode ver
e compartilhar
Entretanto, a vida que se esconde na alma
das dores e da calma
Essas são unicamente minhas
e só a mim, perceptíveis

Não pretendo negociar,
tampouco submetê-las
Ao crivo dos seus olhos
e daqueles, que nada sabem
De ser mulher negra,
Nesse  mundo branco....

domingo, 29 de maio de 2016

A cultura dos concursos de Miss e os 30 homens sobre nossos corpos

O concurso de miss, diversas vezes atacados pelas mais diversas gerações de feministas, continua a causar alegrias de entusiastas, comemorações e comentários entre os mais diversos setores de nossa sociedade. Quiçá, tanto quanto o futebol, falar e classificar os nossos corpos seja uma prática comum na sociedade brasileira, em especial dos homens, agravada por nossa cultura da informação e da agilidade. Hoje, o mais novo assunto das redes sociais, é a vitória de uma mulher negra, no concurso de miss no estado de São Paulo_
Tal fato, me despertou para algumas reflexões. Precisamos compreender, por exemplo, que não venceremos a cultura do estupro, enquanto não enfrentarmos a cultura do machismo e de sua naturalização. O desejo de mulheres negras, brancas e indígenas a serem bem avaliadas por sua beleza, é sem dúvida um dos sintomas da superioridade dos homens sobre nossos corpos, de uma cultura machista/racista, e portanto, hierárquica, que possibilita a cultura da violência e do estupro.
Essa cultura presentifica-se, na roda de meninos na esquina da escola, a avaliarem suas colegas, nos bailes de debutantes, na escolha da mais bela rainha ou princesa (já que não basta ser bela, é preciso pertencer a realeza), a mais bela da festa da laranja, do pinhão e da paçoca. A lista de concursos seria infindável, pois toda e qualquer festa ou reunião fica mais interessante quando da exposição dos nossos corpos, para os ávidos de plantão e são inúmeros os espaços, que apostam nesta assertiva, faz parte inclusive de pacotes turísticos do país.
Nessa jogada, algumas classificações e avaliações são bem quistas, outras aparentemente não, algumas terão seus corpos bem classificados, ganharão coroas, faixas, se tornarão acompanhantes em todo tipo de festas. Infelizmente ou felizmente, outras, como a dep. Maria do Rosário, não passarão pelo teste e como julgou o também dep. Jair Bolsonaro: “Só não te estupro porque você não merece”.
Desse modo, vamos naturalizando quem é merecedora, quem pode ser violada, estuprada, bem avaliada, quem receberá a coroa e quem não terá a mesma sorte. O importante é não quebrar a regra, independente do que pareça ou não legalizado, corpos de mulheres podem e devem ser avaliados seja em um concurso de miss, ou após ser torturado por mais de 30 homens, ou pelo Coronel Ustra, o que importa nesse jogo? Seguir a regra. A barbárie em que vivemos condena ali, repercute o que parece inaceitável, monstruoso, mais explora e reproduz os reflexos da cultura da violência e da objetificação, que permite a aniquilação dos nossos corpos de uma ou de outra maneira, seja na ideia obsessiva da beleza e juventude ou ainda na hierarquia do que é a beleza, já que é importante lembrar que desde 1986 após Deise Nunes, não tivemos mulheres não brancas a ganharem o concurso nacional.
Manas, quando homens se unem para o estupro coletivo, antes assobiaram e avaliaram pernas, bundas, coxas, em suas redes sociais, nas conversas com os amigos, assediaram um pouquinho, mas a mina também estava a fim não é mesmo? Foram bem vistos por compartilhar fotos e campanhas misóginas contra quem exerce o maior poder executivo do país, antes observaram, talvez sem muito compreender, a retirada da ed.de gênero nos planos de educação municipais e estaduais (retirado pelos setores conservadores e sexistas de nossa sociedade), o líder religioso diz que não é do bem, o prefeito se omite, a câmara de vereadores nos disseram_ tchau queridas. Que país é esse? É o mesmo país que repercute o que chama de barbárie, porém elimina nossa proteção e direitos, ao mesmo tempo que aplaudem de pé, com assobios e compartilhamentos, como em tempos de copa do mundo, a mais nova miss São Paulo, de fato, me parece que essa república da banana, se manifesta cotidianamente entre pão, circo e alguma e outra tragédia. Perguntas necessárias em toda relação de poder, é o quanto esta sociedade patriarcal/escravocrata está disposta a negociar, ou ainda, como em nosso cotidiano permitimos e reproduzimos a cultura hegemônica da qual dizemos  combater.

Cristiane Mare da Silva

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Tentei criar alguns versos
não chegaram
Ausentes exaustivos

Procuravam por liberdade
Não queriam  prender-se
na página em branco,
tampouco em nossos rascunhos

Ficaram no eco de memórias
e no resplandecer dos versos
presos,silenciados
entre seu corpo e o meu.